O livro que trabalhei no primeiro PIL é da autoria de Raúl Brandão. A obra « A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore» tem como tema o sonho, a questão do (não) saber viver. Brandão critica o estilo de vida adoptado por todas as personagens da obra, que têm uma característica em comum, são todas alucinadas. De entre as personagens, destacam-se o Palhaço e o filosofo Pitá. De todos, este é o único que consegue viver entre o sonho e a realidade, o que vive mais de acordo com a realidade, o que é capaz de lidar com as « asperezas» da vida.
K. Maurício é a personagem principal e em torno da qual toda a história se desenvolve. « Ponho-me a ver e no fundo do meu ser não encontro senão egoísmo e vaidade... quando uma doença ou a morte dos outros me torcem os nervos, porque é que tenho pena canalha? É porque me vejo ,logo, a mim estendido, doente ou morto(...) quando vejo alguém feliz demonstro apenas alegria e felicidade exterior porque na minha alma odeio-os a todos... quem odeio são os meus amigos, porque triunfam... quem adoro são os desconhecido... (pág. 89 e 90). Esta citação apresenta a personalidade e o mau carácter de Maurício, a personagem mais criticada de todas pelo o autor. Maurício é uma pessoa infeliz e compara-se a uma árvore; esta simboliza duas coisas distintas: a vida, pois Maurício compara-se a ela, reconhecendo que esta é mais feliz do que ele, pois é dotada de vida ao contrário dele; por outro lado, simboliza a alma, a personalidade da personagem principal, como podemos comprovar no último capítulo « O Mistério da Árvore» . Este capítulo conta a história de um Rei ( Maurício): o seu reino tinha apenas uma árvore e esta servia para enforcar as pessoas felizes que tinham a ousadia de entrar num reino onde foi proibida a felicidade. Na minha opinião, neste capítulo, a árvore esgalhada e seca, cujos frutos eram cadáveres traduz a alma de Maurício, porque nela também toda a gente « morria» de um certa forma, pois Maurício, quando via alguém feliz, também os enforcava, uma vez que sentia raiva e inveja deles só porque conseguiam ser felizes e ele não. Está assim desvendado o « mistério da árvore»...
Apesar de não ser uma das minhas preferências literárias, esta é uma obra que me despertou uma enorme curiosidade do início ao fim. O objectivo de Raul Brandão é dar-nos uma lição de vida, transmitir ao leitor que a vida deve ser vivida mesmo com « asperezas», pois se assim não for, se apenas sonharmos, vamos concerteza sofrer ainda mais, tal como as personagens desta obra. Quanto ao estilo do autor, gostei. Não tem muitas descrições, mas usa muitos recursos estilísticos...
Tudo isto para dizer que foi o primeiro livro que li deste autor e que gostei de tudo: do tema, do estilo e aconselho-o a todos os leitores!
Jéssica