segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A Sibila - Agustina Bessa Luís

Estou a ler o livro A Sibila de Agustina Bessa Luís e esta foi a passagem que mais gostei até agora:

"E, bruscamente, Germa começou a falar de Quina.

Era em Setembro, e a casa, temporariamente habitada expulsava o seu carácter de abandono e de ruína, com aquele calor de vozes e de passos que amarrotam folhelhos amontoados em todos os sobrados. O tempo estava morno, impregnado dessa quietude de natureza exaurida que se encontra num baque ondulante de folha ou na água que corre inutilmente pela terra eriçada de canas donde a bandeira de milho foi cortada. Desde a morte de Quina, nunca mais a casa tivera aquela emanação de mistério grotesco ou ingénuo; e Germa não encontrava mais sabor nos serões ao boralho, mexendo as achas, fazendo rodinhas de fogo-preso com o atiçador esbraseado, ou catando nos escanos o rapa do Natal, em cujas faces as letras tinham sido desenhadas com tinta venenosa de bagominhas. Ah, Quina, tão estranha, difícil, mas que não era possível recordar sem uma saudade ansiada, quem fora ela?

Joaquina Augusta nascera nessa mesma casa da Vessada, setenta e seis anos antes. Era uma menina de aspecto pouco viável, roxa, moribunda, e que apresentava no pulso esquerdo uma mancha cor de sépia, motivada pelo facto de sua mãe ter sido salpicada de fígado de porco, por ocasião de uma matança, estando ela nos primeiros tempos da gravidez." Pg.9

Escolhi esta passagem porque nos fala do nascimento de Quina que é a Sibila e mostra-nos que ela nasceu com uma mancha invulgar. Neste excerto, também podemos ver um pouco da cultura das pessoas (a mancha foi atribuída aos salpicos de fígado de porco), do próprio espaço em que se passa a acção (na casa da Vessada) e do que aconteceu quando Quina nasceu.

Bárbara

1 comentário:

Anónimo disse...

Não fala da Agustina Bessa-Luís.


OBRIGADINHO PELA AJUDA.