quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Húmus - Raúl Brandão

Húmus, de Raul de Brandão, é um livro onde se estranham e confundem a morte e a vida.

A história situa-se numa vila, cujo espaço de negatividade está simbolicamente ligado à morte, representando uma paisagem subjectiva, feita de papel glaciar, mesquinhez e tragédia, habitada por seres recalcados, sem história e sem passado.

A vila é assim uma estrutura simbólica da vida.

A vila é caracterizada como uma vila encardida, suja e imunda, com ruas desertas, pátios de lajes soerguidas pelo único esforço da erva. O castelo eram restos intactos de muralha que não tinha serventia.

Os seres que habitam esta vila são fantasmas, dotados de uma segunda vida, criam com o tempo, uma rede de hábitos, de insignificâncias e de ninharias.

O Húmus é um livro que está baseado na morte, que é o problema do dia a dia das personagens, pois todos têm medo dela, porque ninguém quer morrer.

Tanto na vila, como nas pessoas, tudo é subjectivo, nada é verdadeiro, nada presta e a morte é um grande problema que não tem solução.

As personagens vão aparecendo ao longo do livro: não existem personagens principais, todas têm um papel secundário, pois todas são falsas, mentirosas e a sua vida é cheia de pecados, que já não têm salvação. Cada pessoa tem um sonho, o de nunca morrer, ser imortal, viver para todo o sempre. Este era o desejo de todos os seres da vila. Para outros, a morte é um repouso eterno, é a partir da morte que todos descansam, pois já não têm problemas.

A morte é um mistério da vida, nunca acaba, por isso, morrer é uma estupidez, um grande absurdo, não tem lógica morrer, para isso, mais valia não nascermos.

A vida, para muitos, era um acto de fé feito a todos os instantes.

As pessoas da aldeia falavam entre elas e diziam que Deus não existia, a vida eterna não existia, nada no mundo existia, pois se Deus realmente existisse, não nos deixava morrer, vivíamos sempre, ajudava-nos ao longo da nossa vida, escutáva-nos, apoiáva-nos e não fazia de conta que não existimos. Ninguém quer assim um Deus, pois para ele é indiferente se estamos vivos ou mortos.

Portanto, Deus é o tudo e o nada, é uma lei inexorável, pois ele pode tudo, mas ao mesmo tempo não pode nada.

Sofrer ou não era indiferente, pois todos iam para mesma cova, assim era a vida, uma vida de sofrimento contínuo.

Eles, na vila, diziam: "Deus é cego! Deus é cego!"

Se deus existisse mesmo, tudo era melhor.

A D. Biblioteca morre porque os seus filhos Elias e Melias deixaram-na morrer à fome.

As almas das pessoas que morrem vão mal encaminhadas.

No dia 18 de Junho, as pessoas voltam a falar de Deus, pois se Deus não existe, a outra vida não existe, contudo temos que criar um Deus para os pobres, mas tem que ser um Deus bom, que lhes prometa o outro mundo. Então as pessoas usavam esta expressão " É mais fácil um camelo entrar pelo fundo de uma agulha que um rico no reino dos céus".

A D. Inocência e a D. Engracia discutiam sobre o céu e o inferno.

Todos tinham chegado a um ponto em que já não sabiam o que estavam a fazer, o que pensavam, quem eram, o que estavam ali a fazer e, pensavam para si mesmo, será que Deus existe? Será que o inferno existe? Será que o céu existe?

Tudo para as pessoas da vila era uma pergunta e uma grande dúvida.

O livro termina com os habitantes da vila a dizerem:

Estamos aqui todos a espera da morte! Estamos aqui todos a espera da morte!

Telma Coelho

Turma-E

Nº 23




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