segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Notícia: Jorge de Sena "volta" a Lisboa

Trasladação dos restos mortais do escritor, falecido nos EUA, realiza-se amanhã, para o cemitério dos Prazeres
2009-09-10 Jornal de Notícias
A trasladação dos restos mortais de Jorge de Sena para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa, realiza-se amanhã, sexta-feira. Falecido nos Estados Unidos há 31 anos, o escritor foi uma incontornável figura da cultura portuguesa do século XX.

Os restos mortais de Jorge de Sena chegaram recentemente a Portugal provenientes de Santa Bárbara, na Califórnia, onde faleceu a 4 de Junho de 1978, aos 59 anos. A trasladação havia sido anunciada há três meses, pelo ministro da Cultura, durante a cerimónia que marcou a doação do espólio do poeta à Biblioteca Nacional. Para José Jorge Letria, a trasladação "é importante do ponto de vista simbólico", pois significa que chegou ao fim "o segundo exílio" do escritor. "O primeiro exílio de Sena terminou com a morte dele. O segundo exílio, póstumo, termina com o regresso dele", disse o escritor à agência Lusa. No seu entender, Sena "merecia o Panteão".

A cerimónia de amanhã é vista por José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, como "um tributo prestado pelo país a uma das maiores figuras do século XX português". Entende que este momento deve ser aproveitado para "uma vez mais e de forma acentuada" se difundir a sua obra enquanto ficcionista, poeta, ensaísta e tradutor. Responsável pela tradução de autores antigos e modernos, Jorge de Sena verteu para Português, por exemplo, obras de William Faulkner, Ernest Hemingway e André Malraux.

Casimiro de Brito, por seu turno, referiu que Sena foi "enorme, nas melhores coisas que fez" e uma das "figuras mais controversas e mais complexas" da literatura portuguesa. O presidente da assembleia geral do PEN Clube português entende mesmo que "o melhor de Jorge de Sena é do melhor que se escreveu em Portugal", acrescentando: "Ele escrevia e ficava tudo explicado".

"Uma valia absolutamente rara" é como o professor de literatura Fernando Cabral Martins classifica a poesia de Sena. Diz que, depois de Fernando Pessoa, "ha poucos" que tenham a dimensão do autor de "Metamorfoses" (1963), uma das obras que mais influência tiveram no género em Portugal. Recordando as "polémicas relativamente violentas" que opuseram Sena "a outros escritores e a gente que, em princípio, deveria ser mais próxima dele", Fernando Cabral Martins assinalou que ele "estava até relativamente isolado, num certo sentido, porque não era neo-realista nem era surrealista, não tinha uma ortodoxia".

Nascido em Lisboa em 1919, o escritor saiu de Portugal em 1959, rumo ao Brasil, por receio de perseguições políticas resultantes de uma tentativa de golpe de estado em que esteve envolvido. Mas não era um autor desconhecido quando partiu, pois já tinha publicado cinco títulos poéticos: "Perseguição" (1942), "Coroa da terra" (1946), "Pedra filosofal" (1950), "As evidências" (1955) e "Fidelidade" (1958).

Nos Estados Unidos, onde chegou em 1965, publicou alguns dos mais importantes títulos da sua produção poética, ficcional (como "Novas andanças do demónio") e ensaística (de que são exemplo "Uma canção de Camões" e "Maquiavel e outros estudos").

Parte dos manuscritos que compõem o espólio doado à Biblioteca Nacional está tratada e a ser inventariada, enquanto outra parte está exposta.
Bárbara Tavares, nº6, 11ºD

Sem comentários: