sexta-feira, 6 de março de 2009

Camões - Miguel Torga

Nem tenho versos, cedro desmedido

Da pequena floresta portuguesa!

Nem tenho versos, de tão comovido

Que fico a olhar de longe tal grandeza.

Quem te pode cantar, depois do Canto

Que deste à pátria, que to não merece?

O sol da inspiração que acendo e que levanto

Chega aos teus pés e como que arrefece.

Chamar-te génio é justo, mas é pouco.

Chamar-te herói, é dar-te um só poder.

Poeta dum império que era louco,

Foste louco a cantar e louco a combater.

Sirva, pois, de poema este respeito

Que te devo e professo,

Única nau do sonho insatisfeito

Que não teve regresso!

Miguel Torga, Poemas Ibéricos, 1965

Bárbara

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