quinta-feira, 26 de março de 2009

Lembra-te - Florbela Espanca

Minh'alma é a princesa desalento,

Como um poeta lhe chamou, um dia.

È magoada, e pálida, e sombria,

Como soluços trágicos do vento!

È frágil como o sonho de um momento;

Soturna como preces de agonia,

Vive do riso duma boca fria:

Minh'alma é a princesa desalento…

Ate as horas da noite ela vagueia …

E ao luar suavíssimo, que anseia,

Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar houve a minh'alma, ajoelhado,

E vai traçar fantásticos e gelado,

A sombra duma cruz á tua porta…

Florbela Espanca

Vânia Morais

Nº25

10ºE





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Alma Perdida - Florbela Espanca

Alma perdida

Toda esta noite o rouxinol chorou,

Gemeu, rezou, gritou perdidamente!

Alma de rouxinol, alma da gente,

Tu és, talvez, aluem que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,

Que fundiu na dor, suavemente…

Talvez sejas a alma, a alma doente

Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste e eu chorei

Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei

Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,

Que eu pensei que tu eras a minha alma

Que chorasse perdida em tua voz

Autor:

Florbela Espanca

Telma Coelho




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domingo, 22 de março de 2009

"Porque esqueci quem fui quando criança?"

 

Porque esqueci quem fui quando criança?
Porque deslembra quem então era eu?
Porque não há nenhuma semelhança
Entre quem sou e fui?
A criança que fui vive ou morreu?
Sou outro? Veio um outro em mim viver?
A vida, que em mim flui, em que é que flui?
Houve em mim várias almas sucessivas
Ou sou um só inconsciente ser?

 

Francisca Macara, 10ºD



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Semearam meus pais,e eu nasci.



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A uma rapariga - Florbela Espanca

Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada de vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste de uma flor!...


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quarta-feira, 18 de março de 2009

Adeus - Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.




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segunda-feira, 9 de março de 2009

Libertação - Miguel Torga

Nascer e ficar aqui
Onde os pés sentem firmeza.
Subir ao céu em beleza,
Mas em sonhos, em mentira,
Não vá deixar-nos a lira
De mal com a natureza.

Miguel Torga


Vânia Morais




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Fanatismo - Florbela Espanca


Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

(...)

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»



Célia Fonseca
10ºE nº12





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domingo, 8 de março de 2009

Dies Irae - Miguel Torga

"Dies Irae"

Apetece cantar, mas ninguém canta.

Apetece chorar, mas ninguém chora.

Um fantasma levanta

A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.

Apetece fugir, mas ninguém foge.

Um fantasma limita

Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.

Apetece matar, mas ninguém mata.

Um fantasma percorre

Os motins onde a alma se arrebata

Oh! maldição do tempo em que vivemos,

Sepultura de grades cinzeladas

Que deixam ver a vida que não temos

E as angústias paradas!"

"Cântico do homem" - Poesia

Miguel Torga

Andreia Tomás



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sábado, 7 de março de 2009

Ar Livre - Miguel Torga

Ar Livre

"Ar livre, que não respiro!

Ou são pela asfixia?

Miséria de cobardia

Que não arromba a janela

Da sala onde a fantasia

Estiola e fica amarela!

Ar livre, diga-vos eu!

Ou estamos nalgum museu

De manequins de cartão?

Abaixo! E ninguém se importe!

Antes o caos que a morte...

De par em par, pois então?!

Ar livre! Correntes de ar

Por toda a casa empestada!

(Vendavais na terra inteira,

A própria dor arejada,

- E nós nesta borralheira

De estufa calafetada!)"

Miguel Torga

"Cântico do Homem" - Poesia

Andreia Tomás




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sexta-feira, 6 de março de 2009

Camões - Miguel Torga

Nem tenho versos, cedro desmedido

Da pequena floresta portuguesa!

Nem tenho versos, de tão comovido

Que fico a olhar de longe tal grandeza.

Quem te pode cantar, depois do Canto

Que deste à pátria, que to não merece?

O sol da inspiração que acendo e que levanto

Chega aos teus pés e como que arrefece.

Chamar-te génio é justo, mas é pouco.

Chamar-te herói, é dar-te um só poder.

Poeta dum império que era louco,

Foste louco a cantar e louco a combater.

Sirva, pois, de poema este respeito

Que te devo e professo,

Única nau do sonho insatisfeito

Que não teve regresso!

Miguel Torga, Poemas Ibéricos, 1965

Bárbara

domingo, 1 de março de 2009

Sísifo - Miguel Torga


Recomeça...

Se puderes,

Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres,

Nesse caminho duro

do futuro,

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.


E, nunca saciado,

Vai colhendo

Ilusões sucessivas no pomar.

Sempre a sonhar

E vendo,

Acordado,

O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura

Onde, com lucidez, te reconheças.