quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Philip Roth - A Mancha Humana

Philip Roth é, segundo alguns críticos, um dos maiores escritores actuais. Nasceu em Newark, nos Estados Unidos, em 1933, e, desde a década de sessenta, vive em Manhattan, rejeitando todo e qualquer contacto com a mundanidade local. Até mesmo as entrevistas são marcadas por ele próprio, tentando, a todo o custo, preservar a sua vida pessoal da devassa dos meios de comunicação social.
Porém, não deixa de transparecer na sua obra uma profunda carga ideológica, quer de índole política, quer sobretudo filosófica.
A Mancha Humana (2001), obra premiada com o Prémio Médicis 2002, Prémio Britain's W.H. Smith e American Pen/Faullkner, coloca-nos em 1998, ano em que se despoletou o escândalo Mónica Lewinsky e Bill Clinton, perante a hipocrisia social e política que o caso evidencia e, simultaneamente, perante o caso pessoal de Coleman que é acusado de racismo.
Numa linguagem crua e muitas vezes chocante, o polífono narrador coloca-nos diante das angústias, das misérias e das glórias das várias personagens, incomodando cada leitor nas suas opções fundamentais.
Coleman, de 71 anos, até há bem pouco reitor universitário, está agora envolvido num caso amoroso/sexual com uma mulher de 34 anos e é portador de um segredo desde que ingressou na marinha norte-americana. É sobre este segredo que assenta toda a hipocrisia da acusação que lhe é feita e, paradoxalmente, é nesse segredo/mentira que assenta toda a vida de Coleman.
Afinal, a vida de cada ser humano não passa de uma metáfora de si próprio. Construí-la ou descontruí-la é o que fazemos diariamente.
Eis um exerto de A Mancha Humana:
"Porque nós não sabemos, pois não? Toda a gente sabe. O que faz as coisas acontecerem da maneira que acontecem? O que está subjacente à anarquia da sequência dos acontecimentos, às incertezas, às contrariedades, à desunião, às irregularidades chocantes que definem os assuntos humanos? Ninguém sabe, professora Roux. «Toda a gente sabe» é a invocação do lugar-comum e o início da banalização da experiência, e o que torna tão insuportável é a solenidade e a noção de autoridade que as pessoas sentem quando exprimem o lugar-comum. O que nós sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum, ninguém sabe coisa nenhuma. Não podemos saber nada. Mesmo as coisas que sabemos, não as sabemos. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? É espantosa a quantidade de coisas que não sabemos. E mais espantoso ainda é o que passa por saber." (Roth 2004: 223).